quinta-feira, 14 de junho de 2012

Há dias assim...

Há dias assim, em que velamos o nosso próprio sono. Vi-me deitada na cama, às voltas sem conseguir dormir, a transpirar e num desassossego que só talvez Fernando Pessoa conseguiu traduzir em palavras.

Vi o meu corpo, ali naquela imensidão de cama, de vazio, sem propósito, sem controlo e pensei: porque não acordas, porque não acabas com este pesadelo? Mas não o fiz! Continuei a olhar o meu corpo e a minha mente confusa, sem dó, sem piedade.

Fui-me agitando cada vez mais, primeiro com a imagem da minha rotina diária, depois com os fantasmas do passado. Subitamente parei e escutei um barulho que vinha de um saco deixado por esquecimento no chão. Algo ganhou vida naquele saco. Quis gritar que era um rato. Mas não gritei, porque há meses que esse privilegio me foi retirado. Limitei-me a encolher-me de medo. Sumi-me na cama e fiquei mais pequenina que o rato da minha imaginação.

A paisaagem mudou...Ele chegou poderoso, belo e decidido. Arrebatou-me no primeiro olhar. Deixei-me ficar com aquela imagem, sem pressas, sem perguntas. Achei que o globo havia parado de girar e que naquele momento a eternidade me pertencia. O desassossego transformou-se em felicidade. Um raio de luz aqueceu-me a cara, cintilei.

Acordei de manhã e senti-me mais cansada do que nunca.

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