quinta-feira, 14 de junho de 2012

Há dias assim...

Há dias assim, em que velamos o nosso próprio sono. Vi-me deitada na cama, às voltas sem conseguir dormir, a transpirar e num desassossego que só talvez Fernando Pessoa conseguiu traduzir em palavras.

Vi o meu corpo, ali naquela imensidão de cama, de vazio, sem propósito, sem controlo e pensei: porque não acordas, porque não acabas com este pesadelo? Mas não o fiz! Continuei a olhar o meu corpo e a minha mente confusa, sem dó, sem piedade.

Fui-me agitando cada vez mais, primeiro com a imagem da minha rotina diária, depois com os fantasmas do passado. Subitamente parei e escutei um barulho que vinha de um saco deixado por esquecimento no chão. Algo ganhou vida naquele saco. Quis gritar que era um rato. Mas não gritei, porque há meses que esse privilegio me foi retirado. Limitei-me a encolher-me de medo. Sumi-me na cama e fiquei mais pequenina que o rato da minha imaginação.

A paisaagem mudou...Ele chegou poderoso, belo e decidido. Arrebatou-me no primeiro olhar. Deixei-me ficar com aquela imagem, sem pressas, sem perguntas. Achei que o globo havia parado de girar e que naquele momento a eternidade me pertencia. O desassossego transformou-se em felicidade. Um raio de luz aqueceu-me a cara, cintilei.

Acordei de manhã e senti-me mais cansada do que nunca.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Coisas SIMPLES que me fazem FELIZ

Fui invadida por um cheiro a chá de menta. A Joana está na cozinha a fazer bolachas com a Inês, enquanto eu e a Margarida dançamos e rimos na sala.
Cheguei hoje a casa da Margarida. O Daniel foi-me buscar e a Margarida recebeu-me com um abraço apertado e com um grande sorriso. No caminho para casa senti o vento a bater-me na cara e à medida que o carro ia avançando fui pensando como a costa é bonita. Tinha tantas saudades.
A casa da Margarida é concorrida, um entra e sai de pessoas. Cheira sempre a comida, a doces, canela queimada. Nem sei por onde começar a falar. Tenho tantas coisas para partilhar com a Margarida. Há meses que não nos víamos. Senti-me confusa e cansada, não sabia bem por onde começar.
De repente apareceu a Gina e o Humber em traje africano. Senti-me a sonhar, mas depois percebi que eles estavam mesmo ali. Vieram viver para Portugal. Pensei que o mundo tinha parado naquele momento. Demorei algum tempo! A minha cara abriu-se num enorme sorriso. Estremeci de felicidade.
Passeamos pela ribeira, pelo Cais de Gaia, deambulamos que nem loucos pelas ruas apertadinhas da cidade. A Gina parou em frente a uma senhora velhinha que estava a vender rebuçados. Quis uma mão cheia, fizemos-lhe a vontade. Agradeceu-nos com aquele sorriso meigo e sincero. O meu coração estremeceu outra vez de felicidade, coisas simples que me fazem feliz.
Começamos a sentir o vento frio da serra do Pilar, abraçamo-nos enquanto víamos desaparecer o sol. Fechamos os olhos!
Acordei e tinha lágrimas nos olhos. Um dia a Gina disse-me que ninguém segura nas lágrimas. Eu não fui capaz de segurar as minhas!

sexta-feira, 9 de março de 2012

Olaya

Introdução - Olaya. A minha prima em 2º. grau angolana. Neta do meu tio-avô. Esteve em Portugal quando eu ainda não era nascida. Falámos recentemente pelo facebook. Estou (obviamente) cheia de curiosidade de a conhecer. Ainda por cima, nos últimos dias, tenho me debruçado com mais afinco na elaboração da Árvore Genealógica da minha família.. Daí o sonho..

Uma africana de olhos grandes, pele morena de mulata, cabelo esticado.. Moderna e alegre. Não ouço sons nenhuns. Ela sorri. Está mesmo à minha frente no que parece ser uma estação de comboios no meio do mato. Está com três crianças... As minhas priminhas africanas ! Sinto uma empatia instantânea por elas. Abraçámo-nos após algumas palavras que ela me dirige, que não entendo ou melhor não ouço.. Ela não se apercebe. Abraçadas sinto lágrimas a escorrerem pelas nossas faces até sentir na boca o salgado que nos une. São minhas ? São dela ?

Cabo Verde é isto?

Chego num barco de madeira pintado de azul marinho. Um carioco. Espera-me no pontão uma senhora aparentemente europeia, com ar jovial.  Vou fazer voluntariado numa ONG local -  Fundação D. Ana. Apresenta-me as outras voluntárias. Três raparigas europeias -  uma francesa, uma holandesa e uma portuguesa. As caras delas parecem-me familiares. O tempo estava quente mas com alguma neblina. Vamos de jipe aberto atrás para uma casa de madeira de 2 andares. Há uma festa no pátio com batuques e dança. Deliro. É isto Cabo Verde...É a primeira vez que vejo crioulos, as ruas estavam desertas.. Em casa entro num quarto pequeno com grande varanda para o mar. Estou encantada. Bonita paisagem..mas a vista falha-me e só vejo tons de verde e castanho e tudo à volta se balança. Uma tontura. É o mar que ondula?? Atordoada ouço vozes que me chamam para a cachupa . Acordo..

quinta-feira, 8 de março de 2012

Desassossego e Calma

Nasceu um desassossego. Um sobressalto!

Não sei bem onde estou. Vejo uma cortina de pó e uns telhados pontiagudos todos alinhadinhos e com cruzes na ponta, e vejo a açoteia da minha casa. Como eu gosto de me deitar ao sol na açoteia da minha casa. Ali onde tantas vezes senti o sol a queimar-me a pele e o vento a soprar-me ao ouvido! Estive lá esta noite. Mas também estive em PRG e em STP.

Senti-me confusa e perdida, cansada e sem forças. Talvez porque queria estar nos três sítios ao mesmo tempo. Foi possível estar nos três sítios ao mesmo tempo.

Senti o cheirinho a comida fresca, a minha mãe chamou por mim: ALMOÇO! Cheirava tão bem! Mas não tive tempo para provar. Tenho a certeza que ainda sabia melhor.

Ouvi uma música lá ao fundo, entranhou-se na minha cabeça. A música gritava dentro de mim. Porquê? Está-me a cansar, mas não pára!

Agora estou a saudar o sol na minha açoteia. O sol brilha, brilha e quase que sinto que está a sorrir para mim. Talvez seja eu que estou a sorrir para mim e para Ele. Enquanto me estico toda e faço uma "prancha" olho para o Infinito. Contemplo o sol, o azul, o verde, a minha açoteia. E penso como estou feliz. Mas inquieta e não sei porquê!

Acordo. Porque o tempo não pára. E hoje é dia de cortar o cabelo. Uns dizem que dá má sorte cortar o cabelo, outros que cortar o cabelo nos rouba criatividade. Outros há que acreditam que quem nos corta o cabelo têm o dom de nos passar boas ou más energias, porque têm ali naquele momento um canal aberto para nos descortinar o pensamento. Acredito na última. Estou cheia de BOAS energias!

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Sonho 26-2-12 - Luzes

Vivemos numa ex-colónia portuguesa. Há aquele ritmo na rua, aquele pulsar de corpos, cores, perfumes e o ressoar de cânticos constantes. O sol irradia no céu. Ao mesmo tempo, estou com a minha família, como se estivéssemos de férias em Pedras del Rei. A Aninha está feliz, corre por um extenso relvado e olha todas as coisas cativada, com seus grandes olhos esbugalhados. As casas têm os altos telhados de tijolo com as paredes amplas e as portas de madeira pintadas de branco, que desaguam em espaçosas varandas que nos mostram o exterior. Pode ser São Tomé e Príncipe ou mesmo uma aldeia de Angola ou Guiné. A avó Zé dá-me uma bicicleta antiga, de senhora, e manda-me ir dar um recado ao meu tio-avô M., como se nunca algo tivesse afectado o seu relacionamento. Há uma placa a dizer Rua Santana e ao lado vejo uma grande casa, a Padaria. Outra casa tipicamente colonial. Esta padaria, muito arcaica, muito bonita. Há um perfume quente de fermento, de massa quente que chama. Esta padaria.. Olho à volta e apercebo-me que estou em Santo António do Príncipe. No final desta rua vai-se dar a uma das praças que terá sido de grande importância nos tempos coloniais. Onde passava a linha de comboio que vinha das Roças mesmo em frente à casa do Governador da ilha. Uma casa lindíssima. Apercebo-me que sim, vivo em Santo António (de novo) desta vez com a minha família, com gerações e gerações da minha família. Apercebo-me disso enquanto monto a bicicleta e volto para "casa". No cesto levo o pão quente, que me põe água na boca. Vou pedalando com a estrada só para mim, vejo pessoas sentadas na Praça da Independência, reparo no Monumento de homenagem a Marcelo da Veiga, que se encontra em perfeitas condições de preservação, tanto o desenho como o poema. Não encontro pessoas conhecidas. Há pessoas nos bancos da praça mas há algo estranho nas suas faces, sem conseguir vislumbrar traços específicos. Olho as casas, as varandas, a Igreja e volto a casa onde encontro pelo menos 4 gerações diferentes da minha família. Olho o céu, há uma luz, uma estrela que ofusca, apesar de ser ainda dia. O sol brilha estranhamente agora, os raios vão desde um azul a laranja escuro. Há electricidade no ar.